O mundo gira.
E os passos dados na trilha deserta deixam marcas na terra. O vento sopra e as folhas ligeiramente voam, percorrendo o mesmo caminho como se estivessem à procura de alguém.
Não há sol e não há chuva, mas a luz do dia incomoda seu olhar e o frio lhe gela até os ossos.
Outono. Tudo marrom.
Seus olhos se fecham e a tristeza bate à porta de seu despedaçado coração. A vida lhe gasta a memória a cada momento da felicidade quem um dia possuiu.
Vida. A mesma que lhe deu seu amor. Foi a vida que tirou. Vida que acompanha cada passo de cada indivíduo, para, por fim, entregar-lhe à morte. Vida que traga o coração. Vida que sustenta a dor. Vida que lhe tirou o seu amor.
O mundo gira.
A terra já não marca mais os passos. As folhas não voam mais, não procuram por mais ninguém. Já secaram.
Não há sol, apenas chuva, que molha a face e se mistura com as lágrimas caídas.
Inverno. Mundo cinza.
Seu olhar alcança um horizonte perdido distante de sua realidade. A esperança parece ter morrido há muito tempo. Sente que já não vive mais, apenas passa pela vida como se fosse uma sombra de um velho castiçal de prata esquecido no canto de uma mesinha de bar de jazz, onde, além do barman e dos músicos, está apenas aquele bêbado inveterado que ali está todos os dias, contando sempre como sofreu por amor.
O mundo gira.
Na trilha nascem flores, que rodeiam o amante sofredor, exalando o doce perfume de jasmim. O verde das árvores alimenta a esperança do encontro tão esperado.
Há pouco sol. O suficiente para aquecer as plantas. Os belos raios caem sobre a terra transformando a linda paisagem.
Primavera. Arco-íris.
Seu olhar se admira encontrando tanta beleza. Olhos estes que já estavam acostumados à escuridão, esquecendo que havia amor, antes mesmo de haver dor. Sente como se estivesse caminhando por um lindo roseiral e enquanto passava pela seção branca, a paz tocou seu coração. Linda paz que lhe fez respirar corretamente pela primeira vez em muito tempo.
O mundo gira.
A trilha chegou ao fim. O encontro foi marcado. O sol queima. As flores murcharam.
Verão. Amarelo marcante.
Seus olhos foram-se fechando aos poucos, despedindo-se de cada cor, cada sombra, cada rosa. O luar apareceu como que quisesse avisá-lo que sua hora chegou. E antes de partir, sorriu, pois sabia que encontraria a amada, que há muito já partiu.
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